História

 

 

Ilustração de Capa - O Sertão Carioca

A Baixada de Jacarepaguá e toda a Zona Oeste eram tão distantes e alheias ao ritmo da cidade do Rio de Janeiro que foram apelidadas de “Sertão Carioca”.

Seus moradores eram chamados de sertanejos, uma referência tanto à distância quanto ao desenvolvimento da região que, naquela época, era essencialmente rural.

Hoje em dia, ainda são preservados diversos traços desse passado, com áreas de agricultura urbana, patrimônios históricos e arquitetônicos do período colonial e algumas comunidades quilombolas.

Além disso, Jacarepaguá detém um rico portifólio de artistas e artesãos que engrandecem uma lista muito rica de agentes da cultura local.

A fundação de Jacarepaguá

Jacarepaguá (junção de três palavras da língua do tronco tupi: YACARÉ, UPA e GUÁ) significa lagoa rasa dos jacarés, animal muito comum de se encontrar por essas terras até os dias de hoje. Assim como seu nome, a história dessas terras tem origem nas tribos dos índios tupinambás. Donos da parte litorânea do Brasil, viviam de plantio, pesca e caça.

Quando os portugueses se apropriaram das terras e a cidade do Rio de Janeiro foi fundada, em 1565, por Estácio de Sá, Jacarepaguá ainda não havia entrado no mapa. Somente quatro anos depois, quando Salvador Correia de Sá se torna o governador geral da cidade, a região começa a ganhar registros na história. Ele cede os lotes de terra que hoje são Jacarepaguá para dois portugueses, Jerônimo Fernandes e Julião Rangel. Ainda assim, a região permaneceu abandonada.

Em 1594, Gonçalo e Martim, filhos de Salvador Correia de Sá, reivindicaram perante o governo as sesmarias (como eram chamados os lotes de terra) de Jacarepaguá, alegando que a terra estava improdutiva e que causava prejuízos à cidade do Rio de Janeiro. Então, em 9 de setembro, o governador cede a região para eles. Essa data se tornou, oficialmente, o dia da fundação de Jacarepaguá.

 

A divisão de Jacarepaguá e a primeira freguesia

As terras foram divididas entre os irmãos: Martim ficou com os lotes da Freguesia, Taquara, Camorim, até o Campinho e desenvolveu suas terras rapidamente. Gonçalo ficou com as Vargens, o Recreio e o litoral, terras alagadas e pantanosas que dificultaram o avanço de construções.

As terras de Jacarepaguá então começaram a se desenvolver, e a partir da criação da primeira freguesia da região, graças à construção da Igreja de Nossa Senhora do Loreto no lugar que hoje ainda conhecemos como Freguesia, engenhos de açúcar, capelas e igrejas começaram a tomar conta do cenário local. Jacarepaguá passou a abrigar muitos engenhos de açúcar, tantos que foi apelidada de “Planície dos Onze Engenhos”.

Em 1808, com a chegada da família real, o cenário se transforma mais uma vez. Os engenhos de açúcar começam a ser substituídos gradativamente por fazendas de café, e Jacarepaguá se torna uma das áreas de plantio mais importantes do país.

 

Escravização e quilombos

A mão de obra utilizada nos engenhos e fazendas de café era escravizada. Primeiro, os índios, que na luta contra seus captores acabaram por ser exterminados da região. Em seguida, os negros, vindos da África em navios desumanos, sem qualquer segurança ou higiene, o que acabava por matar muitos durante a travessia. Os que desembarcavam em terras brasileiras, sem ter como resistir em terras estrangeiras e distantes de sua terra natal, eram escravizados. Os negros se tornaram a mão de obra mais explorada daquele período, e constituíram a maior parte da população do Rio de Janeiro.

Como Jacarepaguá era sede de muitas fazendas e engenhos, grande parte da população negra veio para cá, e acabaram por transformar a região num importante palco da resistência na luta pela liberdade. Aqui, nasceram vários quilombos.

Os quilombos eram comunidades de negros, constituídas de diversas formas. A mais conhecida era a que abrigava negros que escapavam dos engenhos e fazendas, constituindo comunidades escondidas. Hoje, os quilombos são guardiões e protetores da cultura negra, um dos maiores patrimônios imateriais do nosso país.

Em Jacarepaguá, alguns quilombos se formaram onde hoje está o Parque Estadual da Pedra Branca, reserva ecológica considerada uma das maiores florestas de vegetação natural em área urbana do mundo. Nossa “Amazônia carioca”, é um dos maiores pontos de preservação do ecossistema local.

 

Meios de transporte de antigamente

Por conta de seu aspecto rural, a Baixada de Jacarepaguá, até o século XIX, era distante da movimentação da grande cidade. Os meios de transporte mais utilizados eram carroças e carruagens puxadas por burros, mas também havia a navegação, que levava moradores em barcos por rios e pelo mar da Barra da Tijuca para que conseguissem chegar ao centro da cidade. Havia também o transporte de mercadorias pelos rios até chegar na Praça do Mercado, atual Praça XV. Com a inauguração do bonde puxado por burros, os moradores encontravam uma linha direta até Cascadura, de onde partia o trem que fazia uma conexão mais rápida com o centro da cidade.

A situação dos meios de transporte em Jacarepaguá melhorou consideravelmente com a eletrificação dos bondes, em 1911. Mas ainda era um lugar muito distante, tanto que Magalhães Corrêa, importante jornalista e naturalista, apelidou a região de “Sertão Carioca” e seus moradores de “sertanejos”.

 

A distância e os expurgados

A distância de Jacarepaguá também foi estratégica para que o governo decidisse enviar para cá expurgados da sociedade, doentes incuráveis com doenças consideradas de risco e altamente contagiosas que pudessem representar um risco para a sociedade. Assim, na primeira metade do século XX, é inaugurada a Colônia de Alienados, mais tarde chamada de Colônia Juliano Moreira.

No Tanque, é criada uma colônia para portadores de hanseníase, doença que na época era chamada de lepra. E em Santa Maria, é inaugurada uma colônia para tuberculosos.

 

Cidade de Deus

Em 1964, durante o governo militar, para solucionar as necessidades da população carente e fornecer mão de obra para as demandas da Barra, foi criado um projeto habitacional, inovador e ambicioso chamado Cidade de Deus. Mas antes desse projeto ter sido concluído, em 1966, acontece uma grande enchente, que desabriga moradores de diversas favelas do Rio e faz com que as moradias sejam ocupadas antes da finalização do projeto. Nascia uma Cidade de Deus muito diferente daquilo que foi projetado.

Hoje, o essencial é olharmos para o passado como história e solo fértil para nosso futuro. Que sua essência nos sirva de exemplo e nos permita evoluir como indivíduos e como comunidade. E que seja a base para afirmarmos nossa identidade: sertanejos e desbravadores, nascidos de uma rica história que merece ser lembrada para sempre. Viva o sertão carioca. Salve a Baixada de Jacarepaguá.

Créditos da imagem: livro CORRÊA, Magalhães. O Sertão Carioca. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1936.

Tem alguma história que acha interessante para contar? Fale com a gente!

Fale Conosco

Rua Alberto Soares Sampaio, 72 - Taquara (acesse o mapa)
(21) 3256 5641 |21 96429 7838
Horário de funcionamento:
terça a quinta - das 17h às 22h | sexta e sábado - das 17 às 23h
E-mail: contato@casadeculturajpa.com.br